Dá para pegar qualquer modão sertanejo, ou diversos outros exemplares em todos os gêneros musicais para descrever a situação do torcedor do New England Patriots neste momento: será que é hora de se iludir com quem tanto judiou de nós?
Depois da imperdoável derrota para os Broncos, o atropelamento contra os 49ers e o dolorido revés diante os Bills, a vitória contra os Jets não foi para enganar ninguém. Mas e o que vimos diante do Baltimore Ravens?
Rafael Belattini: O coração bate acelerado, mas é de verdade?
Se o confronto histórico era amplamente favorável para nós (10-4 até então), o momento era completamente diferente. O time do atual MVP tinha tudo para sair de Foxboro com o W, mas levou um L daqueles todo desenhado, de início de parágrafo de livro antigo, para Maryland.
O ponto alto foi o ataque, que na maior parte do tempo tomou as decisões corretas, ao contrário do que vinha acontecendo.
O jogo terrestre funciona no clima pouco amistoso? Pois use e abuse dele, aproveitando para fazer pequenas variações com passes para aproveitar uma desatenção e não se tornar completamente óbvio.
E a nada óbvia chamada do nosso segundo touchdown? Jakobi Meyers lançando uma pérola para Rex Burkhead na end zone? Quem é que faria uma aposta dessas, mesmo após uma semana em que foi tão falado do passado de QB do recebedor?
Era exatamente disso que o torcedor dos Patriots precisava: ser surpreendido.
Passamos anos acompanhando jogadas engraçadinhas, flea flickers, reverses, jogadores de linha que se anunciavam elegíveis e obrigaram a NFL a mudar as regras, etc. Coisas que nos passavam duas certezas: que o ataque sabia bem o que estava fazendo e que existia uma vontade enorme de ganhar a qualquer custo.
Perdemos isso no ano passado, quando a falta de confiança tanto por parte da comissão técnica quanto por Tom Brady fez com que optássemos pelo arroz com feijão sem nenhum tempero. Nosso ataque era a verdadeira comida de hospital.
Nas primeiras semanas de 2020 a read option nos animou, pois não era algo que estávamos acostumados a ver. Contudo, rapidamente percebemos que esse seria nosso padrão de jogo e a graça se foi.
Já na defesa o destaque foi mais uma vez JC Jackson, que parece estar montando uma coleção de souvenirs dos quarterbacks rivais e não vai embora de campo sem levar uma bola do adversário.
Contudo, seguimos apresentado falhas nos tackles. Lamar Jackson é liso e traiçoeiro, nossa defesa é leve, mas sempre ouvi dos coordenadores defensivos que se você encostou, então é preciso derrubar.
Na hora de se empolgar é bom lembrar que a vitória contra um time que tinha campanha 6-2 veio também com ajuda do fator clima. Mas como não acreditar que a tempestade que caiu na campanha final de Baltimore e acabou logo em seguida não foi um daqueles momentos que sempre fizeram nosso rivais reclamarem e criarem teorias conspiratórias?
No NRG Stadium, contra os Texans, o teto retrátil impedirá que o clima seja um aliado. Só que essa arena já nos garantiu alegrias inexplicáveis, não? Que nos inspire em mais uma improvável virada.
Rafael Belattini é jornalista com passagem pela ESPN e cobertura de dois Super Bowls. No Patriotas, Belattini escreve sua coluna semanalmente para falar sobre o seu time do coração, o New England Patriots. Siga Rafael Belattini no twitter.
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Foto de capa de AP Photo/Charles Krupa.