Podemos reclamar de muitas coisas nesta temporada dos Patriots, mas nunca poderemos dizer que ela foi insossa.
Afinal, acho que nesta semana eu já mudei umas três ou quatro vezes o tema desta coluna antes de começar a escrevê-la. Infelizmente, nenhum desses temas colocaria um sorriso no rosto de quem está lendo.
Voltaremos a criticar o ataque? Oras, ao menos dessa vez não podemos dizer que Josh McDaniels não explorou jogadas diferentes. Está claro que o problema não é o playbook, mas sim… todo o resto. Uns mais, outros menos, mas todos têm culpa (até Brady).
Mas a semana merece assuntos que têm mais a ver com o fora de campo do que com o campo. Então vamos a eles, de trás para frente.
À MULHER DE CÉSAR…
Como se não bastassem todos os problemas nesta temporada, a semana começou com a possibilidade de mais um “Gate” na vida de New England. Dessa vez com ares de nostalgia e uma pitada de piada: gravações ilegais para “roubar” segredos do Cincinnati Bengals.
A piada nem precisa ser explicada, mas será que é realmente necessário trapacear para vencer o próximo jogo, contra o pior time da temporada?
Já a nostalgia é pelo Spygate – se você não conhece, é o escândalo de gravações ilegais da sideline dos adversários para identificar chamadas e padrões dos rivais, descoberto na década passada e que custou a primeira escolha no draft de 2008, além de multas aos Patriots e ao técnico Bill Belichick.
Desta vez a explicação foi que aqueles que filmavam ilegalmente a lateral do campo pertenciam à uma equipe terceirizada, contratada para a produção da webserie Do Your Job. É totalmente plausível, mas a franquia já perdeu o benefício da dúvida.
É improvável que Belichick tenha feito toda esta nova trama e se arriscado em um dos jogos mais fáceis da temporada, por mais desesperador que o momento pareça e por mais que eu acredite que Cincinnati possa dar certo trabalho para esse ataque tão disfuncional.
Como a franquia não é mais ré primária, cabe a velha história: “À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. Os Patriots foram, no mínimo, desleixados ao permitirem tal incidente. A imagem da franquia definitivamente não precisa de mais esta polêmica, pois já ficou bem claro com o Deflategate que vindo de Foxboro é muito mais complicado alguém se convencer de uma explicação.
A prova disso é que já rolam os comentários de que Belichick “não seria tão burro assim” ao deixar uma equipe terceirizada colocar o time em uma situação tão complicada e também de que “ninguém engole essa desculpa”.
Agora, se Bill Belichick realmente preparou um jeito de roubar estes sinais deve perder totalmente a imagem de “gênio”, pois o responsável pelas filmagens foi avistado e identificado por estar com uma chamativa blusa do Boston Bruins ao lado do equipamento focado na lateral. Dava para ser mais discreto, não?
SEM ESQUECER DA ARBITRAGEM
Toda a polêmica da filmagem fez sumir rapidamente do noticiário a enormidade de erros da arbitragem contra os Patriots no domingo, no revés contra o Kansas City Chiefs.
Brady afirmou, e eu concordo, que não dá para colocar na conta da arbitragem a culpa pela derrota.
A primeira campanha foi bonita, com 83 jardas (39 delas conquistadas em faltas) que terminou com um flea flicker e o passe de 37 jardas para touchdown de Julian Edelman. Depois, foram 11 posses e em apenas três delas o ataque caminho pelo menos 45 jardas.
Mas é também inegável o prejuízo que o apito causou. Desde a primeira descida marcada na linha de 40 que levou ao primeiro desafio (o jogador jamais ultrapassou a linha de 39), passando pela necessidade de desafiar o fumble, perder o retorno do Gilmore, o touchdown do N’Keal Harry e encerrando com um flagrante OPI que deixaria o time em situação de 1ª para TD com um bom tempo no relógio.
De qualquer forma, o time foi mal mais uma vez e a vitória poderia apenas mascarar uma má atuação, camuflando com uma “superação”.
VAIAS PRA QUE TE QUERO
Vendo mais uma fraca atuação do time, com field goal bloqueado, interceptação e derrota parcial por 20 a 7, a torcida no frio do Gillette Stadium perdeu a paciência e vaiou.
Foi o bastante para que as redes sociais entrassem em ebulição, apontando como a torcida seria mimada e mal-acostumada. Oras, não deixa de ser verdade.
Se o torcedor dos Redskins já não se incomoda com atuações ruins pois elas são o atual padrão, azar o deles. Em Foxboro, há quase duas décadas, a régua subiu e ninguém pensa em baixar o nível.
O intuito do jogo é ganhar, ganhar e ganhar, então está certa a torcida que cobra atuações boas o suficiente para ganhar. No segundo tempo, com uma melhora e ficando sem um destino melhor por conta da arbitragem, a torcida não vaiou o time e isso mostra que não é uma cobrança apenas por placar, mas por atuação.
Rafael Belattini
Rafael Belattini é jornalista com passagem pela ESPN e cobertura de dois Super Bowls. No Patriotas, Belattini escreve sua coluna semanalmente para falar sobre o seu time do coração, o New England Patriots. Siga Rafael Belattini no twitter.